top of page

Crítica de filme: Past Lives

Foto do escritor: Lara Eliza FerreiraLara Eliza Ferreira

“Past Lives” ou “vidas passadas” é a mais nova aposta da gigantesca A24 e ‘gigantesca’ não é um epíteto. Oficialmente, o longa foi lançado em 02 de junho deste ano e até o presente momento, não é possível assistir em nenhum pacote de streaming no Brasil. A partir da direção de Celing Song, uma dramaturga, roteirista e diretora sul-coreana, é possível notar muito de si na interpretação de Greta Lee como Nora (na maior parte do tempo), isso porque, há uma narrativa sobre ser coreano e sobre ser imigrante e somente pessoas com essa vivência, seriam capaz de fazer algumas abordagens, com tamanha sensibilidade.


A primeira vez que tive contato com a atuação de Greta Lee, foi através da segunda temporada da série The Morning Show. Na época e ainda hoje, me fascinou a presença avassaladora da Greta durante seu tempo de tela. A sua atuação e o estilo talvez sejam o que mais me chamou a atenção e em “Past Lives” não foi deiferente. Por isso, a junção da A24 e Greta Lee era um produção instigante e provocativa e eu estava ansiosa para ver como isso iria se desenrolar.


O filme narra a história de Leonore, mais conhecida como Nora. Ela é uma escritora coreana que ainda durante a infância se viu separada do melhor amigo, Hae Sung, devido à mudança da família (Mãe, pai e irmã) para Nova York. Há certas divisões da narrativa do filme. Divisões de tempo e divisão sobre duas “Noras”. A Nora americana, ambiciosa e ousada e ao mesmo tempo, a Si Young, uma jovenzinha coreana de pouco mais de 12 anos que sonha em ganhar um Nobel.


Em algum momento, após anos sem se verem, Hae Sung e Nora entram em contato através das redes sociais e se tornam cada vez mais íntimos. Em algum momento, Nora decide não manter mais contato e eles ficam mais de 12 anos sem se falar. Ao se reencontrarem pessoalmente após mais de vinte anos, Nora é casada com um escritor e Sung está prestes a se casar.


Quando conheceu seu marido, Nora explica para ele algo muito presente na sua cultura coreana que está diretamente conectado ao budismo e reencarnação. O termo In-Yun faz a alusão de encontros de pessoas que estão predestinados a acontecer desde suas vidas passadas. O encontro pode ser simples como um pequeno toque de peças de roupas mas ainda sim, há uma relação com a vida passada. E ao mesmo tempo evoca um tom de possibilidades como: e se já fossemos casados na nossa vida passada ? e se fossemos melhores amigos ? e se não os conhecemos ?


É muito interessante como a narrativa parece encontrar um ritmo a partir do encontro dos velhos amigos de infância. É possível notar a eletricidade entre eles, o magnetismo que parece que quer fazer os dois se tocarem e ao mesmo tempo, o magnetismo que os fazem se retrairem. Nora é séria, convicta nas coisas que deseja, acredita em tudo aquilo que ela é, sem perder a essência de Si Young e ao mesmo tempo, é Hae quem é o responsável por fazê-la se auto questionar sobre quem é e o que quer. Mesmo que seja involuntariamente.


Durante os encontros entre Nora e Hae, In-Yun retorna para o centro das discussões e eles se questionam sobre as diversas possibilidades que teriam se Nora não tivesse ido embora ou cortado o contato. Ao mesmo tempo que há uma conexão estonteante entre Nora e seu amigo de infância, seu marido se sente inseguro por notar o claro magentimo. E há uma sacada muito inteligente de literalmente haverá um corte brusco, o excluindo da cena e focando somente em Nora e Hae, porque esse movimento é capaz de captar o sentimento da protagonista e seu melhor amigo em sincronia e Arthur, o marido americano que está buscando se adaptar a possibilidade de um retorno de um antigo amor de sua esposa.


Greta Lee está estonteante na sua atuação, com presença firme e leve. Ela é uma das poucas atrizes em que é possível vê-la atuando e se esquecer que não se passa de uma atuação. Sobre as roupas, pude perceber um estilo completamente diferente do apresentado em The Mornig Show, o que claramente era natural, porém ao mesmo tempo manteve uma essência captada. Houve uma leveza, clareza e segurança transmitida não só entre as cenas e atuação mas na presença.


Past Lives conta com uma playlist exclusiva do filme mas as músicas quase não são notadas. É um filme em que a narrativa é longa na linha temporal mas curta nas narrativas de cena e cena. Passam-se anos em segundos e dias em minutos. O grande tempo de tela é marcado por uma excelente direção de fotografia onde os personagens passam segundos além do comum se encarando e chega a ser desconfortável até para o espectador. É provocativo !


7 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page