Por Lara Eliza
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A personagem Rob, interpretada por Zoë Kravitz na série "High Fidelity", é uma das figuras mais intrigantes da recente televisão. "High Fidelity" é uma adaptação moderna do romance homônimo de Nick Hornby, lançado em 1995, e posteriormente transformado em um filme estrelado por John Cusack. A série, lançada em 2020 pelo Hulu, reimagina a história, centrando-se em Rob, uma mulher negra e bissexual que enfrenta as angústias e dilemas da vida adulta em Nova York.
Rob é uma figura multifacetada e complexa, cujas experiências e características desafiam as normas tradicionais de representação na mídia. A série, através de sua perspectiva, oferece uma visão crua e sincera da vida urbana contemporânea, explorando temas como amor, perda e identidade. Diferentemente de outras representações de mulheres negras na televisão, Rob não é retratada de forma unidimensional. Em vez disso, ela é uma personagem com falhas, vulnerabilidades e uma personalidade que oscila entre a autossuficiência e a fragilidade emocional.
A jornada de Rob na série é guiada por sua paixão pela música e sua busca incessante por compreender os fracassos de seus relacionamentos amorosos. A trilha sonora desempenha um papel crucial na narrativa, atuando quase como um personagem à parte, refletindo o estado emocional de Rob e os momentos-chave da trama. A música é sua linguagem de amor, um meio pelo qual ela conecta e desconecta de suas experiências passadas.
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Um aspecto notável da personagem é sua capacidade de romper a quarta parede, falando diretamente com o público. Essa técnica, herdada do filme original, é utilizada para expor os pensamentos internos de Rob, criando uma conexão íntima com o espectador. Através dessas conversas diretas, Rob revela suas inseguranças, medos e desejos, humanizando ainda mais sua personagem e oferecendo uma análise profunda da psique de uma mulher jovem e moderna.
A reinterpretação de "High Fidelity" também aborda questões de representatividade e diversidade. A escolha de uma mulher negra como protagonista é significativa, pois quebra estereótipos e amplia o escopo de histórias que são contadas na televisão. A série não foca em Rob como um símbolo de luta ou resistência, mas sim como uma pessoa comum, com falhas e virtudes, cujo percurso é familiar para qualquer um que já tenha enfrentado o coração partido ou a confusão da vida adulta.
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No entanto, a série também levanta questionamentos sobre a profundidade com que essas questões são abordadas. Enquanto a representatividade é um avanço importante, a narrativa de "High Fidelity" em alguns momentos se apoia em uma visão excessivamente centrada na nostalgia e no consumismo cultural. Rob, como curadora de vinis e proprietária de uma loja de discos, está imersa em um mundo onde o passado musical é venerado quase como um refúgio. Isso levanta a questão: até que ponto a série está realmente engajada com as complexidades da identidade moderna, ou está apenas reciclando tropos conhecidos?
A performance de Zoë Kravitz é fundamental para o sucesso da série. Kravitz traz uma autenticidade e carisma únicos à personagem, equilibrando perfeitamente os momentos de humor com as cenas mais dramáticas. Sua Rob é ao mesmo tempo encantadora e frustrante, uma figura que o público tanto ama quanto critica.
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Em última análise, Rob em "High Fidelity" é um reflexo das contradições da modernidade. Ela é uma mulher que navega por uma paisagem emocional complexa, lutando para se encontrar em um mundo onde as conexões humanas são frequentemente fugazes e superficiais. A série, com sua narrativa inteligente e personagens bem desenvolvidos, oferece uma visão provocante e envolvente da vida urbana contemporânea, enquanto desafia as normas estabelecidas de representação na mídia.
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