Mulheres se unem em Mariana, com apoio da Prefeitura para realizar a feira de artesanato fomentando os vínculos comunitários e passando o conhecimento artesanal para gerações futuras
Por Lara Eliza
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Foto: Lara Eliza
#ParaTodosVerem: A foto mostra Ana Ribeiro com um vaso de flores nas mãos e posando para a foto. Ao seu redor há inúmeros vasos de plantas diversas, vidros de mel e ao fundo um cartaz com o dizer “Florestart”.
O artesanato é uma forma de produção de objetos, bonecas e obras de arte utilizando técnicas tradicionais, muitas vezes feitas à mão, sem o auxílio de processos industriais. Essa prática tem raízes históricas profundas e desempenhou grande papel na cultura e na economia de diversas sociedades ao longo dos séculos. Inicialmente a prática estava diretamente ligada à necessidade humana de criar ferramentas, móveis e objetos decorativos para facilitar a vida cotidiana.
Com o passar dos anos, o artesanato foi ganhando novas manifestações, partilhadas principalmente entre as mulheres. Através do crochê, cestas de palha, itens de enfeites domésticos, confecções de bonecas e brinquedos, as artesãs aprimoraram cada vez mais as técnicas rudimentares. Técnicas essas que se estendem até os dias atuais. A cultura artesã se mostra especialmente forte na região dos inconfidentes, onde tradições milenares do artesanato, culinária e cultura local se mantêm fortes e vivas através de relações familiares, feiras e associações culturais dedicadas ao cultivo, organização e fomento de práticas culturais tradicionais.
Entre os dias 12 de dezembro a 25 de dezembro aconteceu a feira de artesanatos na Praça da Sé em Mariana, localizada na Rua Frei Durão, 20-122. Entre 12 de dezembro a 15 de janeiro aconteceu a Feira de Artesanato no Terminal turístico de Mariana, Rua Salvador Furtado, 203-163. A feira conta com a participação da ‘Feira Marte’, ‘Movimento Renovador’, ‘Elas que fazem’, associação ‘Artes, Mãos e flores’ ANCIAM (Associação Comercial de Mariana), ‘Mães da Colina' e várias outras mulheres que não são associadas.
Ana Ribeiro, produtora da cidade de Mariana, faz parte da Florestart, uma empresa familiar de paisagismo, reflorestamento, recuperação de áreas degradadas e de nascentes, auditoria, perícia ambiental, produção e comercialização de plantas frutíferas, ornamentais, palmeiras e plantas exóticas. Além disso, possui uma rede de apiários com produção de mel, favo de mel, cera e própolis. Ela conta que é formada em Jornalismo através da UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto, porém, há cerca de 3 anos, se dedica exclusivamente às plantas.
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Foto: Lara Eliza
#ParaTodosVerem: A foto mostra Ana Ribeiro com um vaso de flores nas mãos e posando para a foto. Ao seu redor há inúmeros vasos de plantas diversas, vidros de mel e ao fundo um cartaz com o dizer “Florestart”
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Produzindo e comercializando as próprias plantas e mudas, Ana é capaz não só de fomentar a economia local mas é capaz de realizar uma comercialização sustentável que contribui para o meio ambiente. Além disso, ela ajuda na prática de subsistência em que o objetivo maior não é o lucro e sim a vida. “A Florestart é uma empresa familiar e tudo é nossa produção. Produzimos tudo o que vendemos”, afirma Ana.
Maria Cristina é uma valiosa personagem do artesanato local. Sua Amiga Célia Antunes mostra com orgulho as produções da amiga e destaca: “ Ela é muito criativa. Ela tira inspiração das coisas da vida e faz esses lindos trabalhos”. As obras de Maria Cristina são 100 % confeccionadas com restos de árvores e outros itens fornecidos pela natureza.
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Foto: Lara Eliza
#ParaTodosVerem: Na foto há inúmeras obras produzidas por dona Cristina. As peças são em madeira de pinho e há obras de casas, pequenas vilas e também personagens. Todas as obras estão sobre uma mesa de forro azul.
A matéria prima para as obras de Maria é a madeira que é recolhida por ela ou doada por amigos e membros da associação. As diferentes peças de madeira lhe dão inúmeras possibilidades de criação que vão desde casa até pessoas. Como é o caso da Obra ‘Maria Desespero’.“Ela [Maria] me contou uma história que um dia ela estava muito desesperada e aí resolveu criar e deu o nome para uma de suas obras de “Maria Desesperada”, ressaltou Célia.
Célia Antunes é uma das fundadoras da ‘Associação Artes, Mãos e Flores’, fundada em 2005. Ela conta que a ideia de fundar a associação partiu de seu desejo de passar adiante todo o seu conhecimento de artesã. “O meu objetivo é ensinar as novas gerações essa técnica de bordar. Hoje, por exemplo, eu tenho minha neta de 9 anos, ela vem comigo, ela fica toda empolgada me ajudando com os artesanatos”, afirma Célia.
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Foto: Lara Eliza
#ParaTodosVerem: Dona Célia está no centro da foto com um vestido verde, óculos, segurando um forro de mesa nas cores verde, preto, marrom e bege em que o desenho é uma árvore de jabuticaba.Ao fundo há outros forros de mesa sobre uma mesa, janelas brancas e um cartaz com o dizer: “COOP MINHA CASA, Artes e sabores Minas Gerais”
Aos 8 anos de idade, Celia desenvolveu grande interesse pelo bordado e destacou: “Me lembro que quando pequena eu morava na fazenda e eu ficava doida para que chovesse , porque chovendo, a gente não ia poder ir pra roça trabalhar. Aí mamãe falava: “ Você faz o queijo, faz a merenda , faz o café e aí podem ir para casa da tia aprender”. Desde muito jovem, dona Célia, como é chamada pelas amigas, vem aprimorando seus conhecimentos no mundo do artesanato.
Buscando sempre aprender sobre ofícios antigos e tradicionais, dona Célia concluiu o curso de ‘Quitandeira’. Através da parceria entre a UFOP e o distrito de Antônio Pereira, foi realizada a “Feira de Artes, Quitandas e Economia Compartilhada”, fruto de um movimento de integração entre a comunidade e instituições e empresas. A realização é do programa de extensão e pesquisa "De mãos dadas com Antônio Pereira", em colaboração com a "Associação de Moradores de Antônio Pereira". Projetos como esse, ajudam a fomentar os vínculos entre as comunidades.
Em média, Célia e suas outras 28 companheiras da associação “Arte, Mãos e Flores” demoram em média 15 dias para confeccionar um forro de mesa de cerca de 1 metro e meio de comprimento. Geralmente, o tempo de produção e valor do produto variam de acordo com os materiais usados, a dificuldade de executar o serviço e o tamanho da peça. Mas uma coisa é sempre garantida: Todas as peças são feitas com muito amor !
Apesar de ser um passatempo para algumas senhoras aposentadas, para outras o artesanato é única fonte de renda. Dona Célia ressalta: “Tem gente que sobrevive com o próprio trabalho”, como é o caso de Eliane Fernandes, de 48 anos, que faz cestas de palha para vender, desde os 7 anos de idade e afirma que aprendeu com sua mãe, que aprendeu tudo com a sua avó. “Eu faço Cestas, cadeiras, tapete do jeitinho que a pessoa desejar. Ela me diz o tamanho, a cor e o formato e eu faço certinho”, afirmou Eliane.
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Foto: Lara Eliza
#ParaTodosVerem: Eliane está no centro da foto com os cabelos presos e usando uma camiseta florida. Ao seu lado estão as suas cestas de palha e ao redor panos de prato, tapetes e outras confecções dela e de suas colegas.
Dona Ana, nascida e criada em Mariana, está localizada na tenda ao lado de Eliane, na praça da Sé. Ela anuncia seus produtos junto a dona Roseli, que é do distrito de Padre Viegas e juntas, elas produzem licor, tapetes, forros de mesa e também vendem os sabonetes confeccionados pela filha de Roseli que aprendeu a técnica com sua avó.Fora isso, é possível ver no artesanato uma forte ferramenta para a integração municipal, unindo artesãos e artesãs de diversos distritos. Ana e Roseli fazem parte da Cooperativa ‘Minha Casa’, que abriga 25 artesãos da sede de Mariana e dos distritos de Cachoeira do Brumado, Camargos, Antônio Pereira, Padre Viegas e Monsenhor Horta.
A gastronomia é uma parte fundamental do artesanato marianense, doces e licores são alguns dos destaques da cena regional. Esforços como um curso de doceria e pasteurização patrocinada pela prefeitura serve para educar e ensinar técnicas à população. A própria Roseli conta que aprendeu a fazer licores e doces através desse curso.
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Foto: Lara Eliza
#ParaTodosVerem: Garrafas de licor de diversos sabores, sabonetes e ao fundo itens de artesanato como panos e travesseiros.
Arte, Mãos e Flores se destaca por ir além de uma associação de artesãs. Localizada na rua Benedito Xavier, Número 104, Antônio Pereira, a associação confecciona produtos reciclados, além de criar vínculos com a comunidade, fortalecer vínculos e usarem a lógica da subsistência. Ela se relaciona com empresas, confeccionando produtos e com escolas, lecionando oficinas de artesanato e pintura.
Parte dos produtos, confeccionados pelas artesãs da associação Arte, Mãos e Flores, são reciclagem de uniformes de empresas como a Vale, por exemplo. Elas utilizam os tecidos para fazer mochilas, bolsas, necessaires e bolsas escolares e os botões são usados para enfeitar panos de prato, bolsas, forros de mesa além de serem utilizados como molde para fazer flores que futuramente serão anexadas a bolsas, panos e outros itens.
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Foto: Lara Eliza
#ParaTodosVerem: Dona Célia com um vestido verde, óculos vermelho com uma bolsa feita de material reciclado nas mãos. Ao seu redor há inúmero artesanatos confeccionados, como forros e bonecas.
Na escola Estadual Professora Daura de Carvalho Neto, no distrito de Antônio Pereira, a associação realizou oficinas de artesanato, bordado e pinturas desde 2016, no ‘tempo integral’ como atividade recreativa. A oficina é responsável não só por ensinar práticas que futuramente podem ser subsistência dos alunos, mas também por manter o ciclo de aprendizagem e ensinamento de conhecimento do artesanato. Esse compartilhamento ajuda a fortalecer os vínculos de uma comunidade.
Fabricio Nepomuceno, diretor da escola, em entrevista à TV Top Cultura, destacou: “Como diretor da escola tenho que buscar tudo aquilo que a comunidade pode oferecer e conhecendo a associação, fiz o convite a Mãos e Flores para contribuir com a gente e me orgulho de tudo o que estamos construindo aqui” e acrescentou: “O que mais me marcou foi a quebra de paradigmas que só a mulher costura, só a mulher borda, só a mulher produz… Conseguimos quebrar esses paradigmas e muitos homens também tem feito artesanato e muito bem.”
Como outra ação diretamente nas escolas, Célia destacou a confecção de 1200 kits escolares que foram distribuídos para 4 escolas em Antônio Pereira gratuitamente. O kit continha uma bolsa, lapiseira, lápis, canetas e outros itens escolares. “Eu não chorei no dia que eu fui entregar os kit, eu chorei depois que uma menina de 12 anos falou que nunca tinha tido uma lapiseira na vida. Um pequeno gesto que faz a diferença”, relembrou Célia.
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Foto: Lara Eliza
#ParaTodosVerem: Dona Célia com um vestido verde, óculos vermelho com uma bolsa feita de material reciclado nas mãos. Ao fundo vê-se inúmeras peças de artesanato e uma moça negra usando o telefone.
O artesanato é capaz de produzir uma cadeia de subsistência em uma comunidade que vai desde o produção de mudas e plantas até a confecção de itens cotidianos como bolsas, necessaires, mochilas, panos de prato, cestas, sacolas de palha, enfeites e outros itens produzidos de forma sustentável. Para fomentar a prática artesanal, por exemplo, é possível que empresas como Vale, Samarco, Gerdau e outras que atuam na região dos inconfidentes doem para a associação, uniformes de suas empresas, em especial aqueles que apresentam algum defeito e não podem ser utilizados.
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Ao doar, a associação é capaz de reciclar os produtos e os transformar em mochilas, bolsas, porta lápis e outros itens. Essa produção, gerada a partir de uniformes reciclados, podem ser comprados pelas mesmas empresas e doados para escolas, por exemplo. Ou até mesmo, vendida para a comunidade.
Essa prática, além de favorecer os membros da associação com materiais gratuitos para seus produtos artesanais, favorece as escolas que serão beneficiadas com os produtos advindos do artesanato. E por fim, beneficiará as empresas envolvidas, a partir do cumprimento das estipulações da CFEM (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais) que estabelece os tributos que devem ser destinados a prefeitura em que a empresa exerce suas funções, o Governo do Estado e o Governo Federal. Com base no segmento de leis e negociação consciente entre as empresas, a prefeitura e associação é possível desenvolver práticas sustentáveis e que priorizam a vida.
Entrevistadas:
Ana Ribeiro
Célia Antunes
Dona Ana
Dona Roseli
Eliane Fernandes
Demais membros da Associação Arte, Mãos e Flores
Saiba mais em: Top Cultura - Associação Artes, Mãos e Flores de Antônio Pereira ensina artesanato para crianças e adolescentes.
ANM - Compensação Financeira pela Exploração Mineral – CFEM.
GOV.BR- Compensação Financeira pela Exploração Mineral – CFEM.
UFOP - Feira de Artes, Quitandas e Economia Compartilhada de Antônio Pereira.
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