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As faces da arte independente

Foto do escritor: Lara Eliza FerreiraLara Eliza Ferreira

Atualizado: 10 de out. de 2023

Artistas independentes de Mariana, apesar de auxílio da prefeitura, têm que se esforçar ainda mais para dar visibilidade a seus trabalhos durante a pandemia


Por: Lara Eliza Ferreira

Fonte: Site da prefeitura de Mariana


Não é difícil encontrar jovens artistas espalhados ao redor do mundo e não seria diferente na cidade de Mariana MG, onde, através do processo de colonização dos portugueses em meados do século XVII, promoveu a mistura de raças criando um choque de culturas que se perpetua até os dias atuais, manifestando-se na dança, música, pintura (etc.). Apesar do número de artistas na cidade ser crescente, as dificuldades aumentam na mesma proporção. Há poucos apoios efetivos por meio da prefeitura, e demais órgãos associados e assim, ser artista independente exige muito mais que vontade.


Socialmente, o conceito de arte é construído e compreendido como uma fonte de entretenimento ignorando o fato de que em sua maioria é também um trabalho e consequentemente uma fonte de renda. Meninas e meninos são colocados em aulas de dança, pintura, canto, fotografia (entre outros) para se divertirem ou passar o tempo. Essa imersão ao meio cultural ensina as crianças a se manifestarem e expurgar sentimentos, porém no futuro essa mesma imersão é subjugada e ironicamente vista negativamente quando entendida como profissão.


Um espaço de debate tem sido criado pelos artistas, visando alternativas para promover um meio de consolidar a arte em suas inúmeras formas de expressão como trabalho e fonte de renda. Nesse sentido, dada a pandemia, em âmbito nacional, foi introduzido no cenário artístico e cultural a Lei Aldir Blanc - 14.017, criada pelo Congresso Nacional e sancionada em 29 de junho de 2020. A lei sancionada tem o objetivo de promover ajuda emergencial para artistas, coletivos e empresas que atuam no setor cultural e que enfrentam dificuldades devido à pandemia gerada pelo Covid-19.


Com a Lei Aldir Blanc, foi possível realizar por exemplo, a 2º Mostra de Mulheres Compositoras, que foi uma sequência de lives realizadas no Youtube durante os dias 25,26 e 27 de junho de 2021. O Coletivo Minas da Voz, responsável por idealizar e efetivar o projeto visando representar mulheres da região (Itabirito, Mariana e Ouro Preto) na arte, além de contar com a participação de uma equipe de produção, operação de som e operação de vídeo, também incluiu artistas como Luzmilla, Manu Dias, Dedo de Dama (entre outros).


Em 12 de março de 2021 a Secretaria de Cultura, Patrimônio Histórico, Turismo e Lazer de Mariana, baseando-se na Lei Municipal nº 3.399, de 16 de março de 2021, disponibilizou o Auxílio Emergencial “Lei Manoel da Costa Athaíde” destinando-se a setores do turismo, da cultura e arte como coletivos de dança, canto e pintura. Microempreendedores individuais, autônomos, microempresas (etc) puderam se inscrever para possivelmente receber o auxílio, entretanto alguns critérios como ser maior de 18 anos de idade e possuir residência fixa em Mariana foram estipulados no regulamento como condições de participação.


Fonte: Imagem cedida pelo cantor via email

Como um dos beneficiados pelo auxílio, inserido no meio musical desde 2016, o cantor e compositor do gênero hip hop e suas vertentes, Young Steve King, 31, lançou sua primeira música em 2019. Segundo ele, a arte é extremamente importante em todos os ciclos da vida: "Só a vida não é o suficiente". Young critica a cidade de Mariana, por historicamente, distinguir os tipos de arte, exaltando algumas manifestações e deixando outras de lado e o fato de haver poucas medidas da prefeitura, secretaria de cultura ou demais órgãos da região que promovam uma consolidação da arte enquanto profissão.


Fonte: Instagram @wandrey

Mesmo quem atua nos meios artísticos que de certa forma recebe maior atenção do poder público, também não está satisfeito com o que é oferecido. Prova disso é o cantor e compositor marianense, Wandrey, de 26 anos, conhecido pela potência da sua voz, qualidade musical e por ser vencedor do festival “Canta Mariana” em sua edição, realizada em 25 de setembro de 2021.


Como artista, Wandrey lamenta o fato de precisar conciliar seu trabalho como vendedor, que é sua única fonte de renda atualmente, com a arte, e destaca: "Viver de arte, em si, já é muito difícil, vivendo em cidade pequena então, há muito mais dificuldades. Não há público, os espaços são poucos e muito disputados. Acredito que haja poucos eventos de incentivo à arte. Talvez mais festivais e contratos justos ajudariam.”


Além de afirmar que não está satisfeito com a gestão do atual cenário político marianense, quando trata-se de setores culturais e artísticos, Wandrey também complementa que deveria haver contratos justos, pois uma certa classe de artistas é contemplada pelo governo mais que outras. “Infelizmente, ao meu ver e de muitos outros artistas, Mariana ainda não fornece suporte para que vivamos somente de arte, salvo os artesãos”, diz e levanta o questionamento: “Muitos bairros de Mariana possuem seus próprios ginásios e quadras poliesportivas, por que não estúdios artísticos então?”


Os artistas independentes da cidade têm buscado conquistar cada vez mais espaço na cidade histórica. Há muitas questões a serem discutidas e questões a serem solucionadas. Até a presente data, a Prefeitura, a Secretaria de Cultura, Turismo e Lazer e a SEDESC não retornaram nossos contatos para esclarecer o que tem sido feito e o que será realizado pela arte local.





Lara Eliza Ferreira é uma marianense, estudante do curso de Jornalismo na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) que como fruto de uma cidade histórica, busca entender o processo de repressão que sujeita indivíduos a condições de exceção e não igualdade.


Email para contato: lara.goncalves@aluno.ufop.edu.br


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